terça-feira, 1 de abril de 2008

Onde estás?


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

E que nele posso navegar sem rumo,

Não respondas Às urgentes perguntas

Que te fiz.

Deixa-me ser feliz

Assim,

Já tão longe de ti como de mim.


Perde-se a vida a desejá-la tanto.

Só soubemos sofrer, enquanto

O nosso amor

Durou.

Mas o tempo passou,

Há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.

Ouvir de novo a tua voz seria

Matar a sede com água salgada.



Miguel Torga escreve o "sentir" a terra como poucos o sabem fazer... Foi médico e poeta e perpétuo "buscador de Deus", de um Deus que não se prende a velhas ortodoxias, que não se define em palavras de catecismo, mas que está na plena liberdade do agir e do amar humanos.



"Deus. O pesadelo dos meus dias, sempre tive a coragem de o negar, mas nunca a força de o esquecer" (Diário XIV)

Sem comentários: